21 outubro 2009

"The tongue is like a sharp knife... Kills without drawing blood."


Buddha

As palavras

São como um cristal,
as palavras.
Algumas um punhal,
um incêndio.
Outras,
orvalho apenas.

Secretas vêm, cheias de memória.
Inseguras navegam:
Barcos ou beijos,
as águas estremecem.

Desamparadas, inocentes,
leves.
Tecidas são de luz
e são a noite.
E mesmo pálidas
verdes paraísos lembram ainda.

Quem as escuta? Quem
as recolhe, assim,
cruéis, desfeitas,
nas suas conchas puras?

Eugénio de Andrade

20 outubro 2009

"I've learned that people will forget what you said, people will forget what you did, but people will never forget how you made them feel."

Maya Angelou

19 outubro 2009

"Live as if you were to die tomorrow. Learn as if you were to live forever."

Mahatma Gandhi

13 outubro 2009

Pensamentos

Noite bucólica. Mãos nos bolsos. Passos morosos. Pensamentos perdidos. Vagueia à deriva por aquela cidade sedentária, parada no tempo, outrora tão familiar. Pensamentos nómadas que emergem aleatoriamente, emaranhados pelo tempo, simples fragmentos do passado.
Caminha…
Sozinho. Envolto pelos próximos e já tão vulgares ruídos citadinos. Pensamentos distantes. Tantas as coisas que não compreendia, tantas as inquietações. Procurava aquele momento. O momento em que o futuro, tantas vezes pensado, tantas vezes premeditado, se desmorona. Aquele momento em que sonhos construídos durante tantas noites se desfazem. O momento em que tudo muda. Em que o tempo pára.
Vagueia…
Absorto. Passa por ruas desertas intercaladas por becos silenciosos. Pensamentos ruidosos que o consomem, ecoando no mais fundo de si, teimando em não cessar.
Caminha…
Em vão. Assombrado pela lentidão das horas. Passos acelerados como se fugisse da vida. Como se isso fizesse correr o tempo e o projectasse até àquele ponto no futuro em que o passado não é mais do que uma simples memória, distante, gasta pelo tempo.
Caminha…
Alheio àquela brisa amena apaziguante. Pensamentos vorazes que o assaltam, que lhe corroem a alma e cansam o corpo. Pensamentos que o desgastam, que persistem e tardam em não desaparecer, alastrando-se como metástases de dor.
Noite bucólica. Mãos nos bolsos. Passos cambaleantes. Corpo embriagado por pensamentos perdidos…

12 outubro 2009

Adeus

Já gastámos as palavras pela rua, meu amor,
e o que nos ficou não chega
para afastar o frio de quatro paredes.
Gastámos tudo menos o silêncio.
Gastámos os olhos com o sal das lágrimas,
gastámos as mãos à força de as apertarmos,
gastámos o relógio e as pedras das esquinas
em esperas inúteis.

Meto as mãos nas algibeiras e não encontro nada.
Antigamente tinhamos tanto para dar um ao outro;
era como se todas as coisas fossem minhas:
quanto mais te dava mais tinha para te dar.
Às vezes tu dizias: os teus olhos são peixes verdes.
E eu acreditava.
Acreditava,
porque ao teu lado
todas as coisas eram possíveis.

Mas isso era no tempo dos segredos,
era no tempo em que o teu corpo era um aquário,
era no tempo em que os meus olhos
eram realmente peixes verdes.
Hoje são apenas os meus olhos.
É pouco, mas é verdade,
uns olhos como todos os outros.

Já gastámos as palavras.
Quando agora digo: meu amor,
já se não passa absolutamente nada.
E no entanto, antes das palavras gastas,
tenho a certeza
de que todas as coisas estremeciam
só de murmurar o teu nome
no silêncio do meu coração.

Não temos já nada para dar.
Dentro de ti
não há nada que me peça água.
O passado é inútil como um trapo.
E já te disse: as palavras estão gastas.

Adeus.

Eugénio de Andrade

08 outubro 2009

O fim da picada

“A cena é conhecida. O escorpião contorcia-se na água tentando escapar do inevitável afogamento. O homem sábio observa-o, aproxima-se, e com a mão tenta ajuda-lo. Mas logo leva uma valente ferroada. Nova tentativa, nova picada e o fim certo para o bicho: o inevitável afogamento. Contudo, não obstante a reacção hostil, o homem sábio não desiste. Cauteloso, utiliza então um pequeno galho e arrasta o escorpião para fora do charco, salvando a criatura.

Quando as impiedosas picadas da vida intentam em afrontar quem és, ainda assim não deixes de ser o que és. Continua a oferecer o teu melhor. Não contraries a tua natureza benigna ainda que sejas violentamente ferido dentro de ti mesmo, porque na tua simplicidade apenas tentavas ajudar.


Continua a oferecer o teu melhor. Não te curves perante as circunstâncias. Sê apenas mais cuidadoso. Aprende a ser prudente como a serpente, mas mantém a simplicidade das pombas, pois os tesouros que tens guardados dentro de ti são a tua essência, e essa jamais alguém poderá roubar. Sara as feridas e não mudes o que de melhor há em ti, porque é isso que te faz diferente e único neste mundo e tu és precioso demais.

Continua a oferecer o teu melhor porque não basta acreditar.
É preciso agir!
E a raiz do teu futuro está dentro de ti;
Todas as escolhas estão, sempre, nas tuas mãos!”


Belmira Antunes Branco in “Plenitude”
(Maio 2007)

06 outubro 2009

Que a vida te seja leve

“Que encontres muitos amigos ao longo do caminho e sejas capaz de ser fiel a ti mesmo e aos teus princípios. Que o amor te abrace uma e outra vez e quando chegar aquele momento, aquela pessoa, que a saibas reconhecer e agarrar. Que nunca faças nada de que os teus filhos um dia se possam envergonhar. Pensa antes de agir, mas não desistas dos teus sonhos só porque os outros dizem ser impossíveis. Luta pela vida e respeita o teu corpo. Não desbarates as tuas energias e a tua alma naquilo que é fácil, que é agradável e que te traz alegria instantânea. Nada na vida se consegue sem luta. Recorda para sempre esta verdade e abraça os desafios como oportunidades. Duvida dos elogios fáceis, afasta-te de quem fala por falar e tem sempre a boca cheia de palavras cruéis sobre os outros. Não aceites as certezas da maioria. Luta pelo que acreditas, mesmo que te sintas só. Nada é tão importante como sermos verdadeiros connosco e olharmo-nos no espelho e não termos vergonha do que vemos. Respeita a família. A tua e a dos outros. Respeita os homens e as mulheres que encontras todos os dias, vergados ao trabalho, porque são esses que te merecem. Afasta-te sim de quem vive para as aparências, de quem julga o próximo seja através da religião, do sangue ou qualquer outra premissa. Recorda-te que todos têm medo de algo, e não te envergonhes de dizer o que temes. Nunca mintas a ti próprio. Não te esqueças que no caminho da vida irás muitas vezes escorregar e cair. O que importa é como te levantas e, principalmente, quantas vezes levantas voo. Não te esqueças de amar perdidamente e chorar sem vergonha. Só quem sofre pode saborear o que é grande, imenso e verdadeiro.(...) E tudo terá valido a pena.”

Luísa Castel-Branco in “Instantes”, Meia-Hora

05 outubro 2009

(...)

"Dizem que o tempo sara todas as feridas. Talvez seja verdade. Mas há feridas que parecem não sarar. Sangram, vertem pus, voltam a sangrar, surpreendem-nos a magoar a alma quando esta já deveria estar habituada e imune a tanta dor. É certo que, às vezes, essas feridas acalmam, como as marés que recolhem a água e recuam para o mar alto; mas, tal como as marés, regressam depois, revigoradas, pujantes, invadindo de novo a praia e fazendo sentir o fulgor da sua presença, o ímpeto do seu regresso."
José Rodrigues dos Santos in "A Ilha da Trevas"

02 outubro 2009

I see

You see black and white...I see grey.

01 outubro 2009

Cansei-me

Desde há muito tempo, pela primeira vez, não soube o que te dizer…Porquê? Não sei…mas será o silêncio condenável? Também não o sei…talvez apenas me tenha cansado. Sim…é isso. Cansei-me.
Porquê? Soube que irias perguntar isso…isso sabia…mas o porquê não sei…talvez até nem haja razão. Mas para ti há. A razão existe e nunca deixou de fazer parte do teu mundo comodista, de gente grande, de responsabilidades, sempre planeado. Nunca deixaste que te levasse para o meu…nem por alguns instantes.
Mas sim, cansei-me. De esperar, talvez…
Porquê? Insistes…não sei…talvez de te ter longe. Na verdade nunca percebi porque te sentia mais distante nos momentos em que fisicamente te encontravas mais perto…sempre me perdi nesta dicotomia espacial.
Cansei-me dos momentos que não controlávamos, das adversidades. São elas a razão do nosso crescimento, ouvi-te uma vez dizer. Mas acomodaste-te. Com o passar do tempo foste deixando de lutar…foste-me perdendo pelo caminho à medida que te afundavas no mundo dos facilitismos.
A verdade é que me foste alimentando com as tuas promessas inadiáveis, com os teus planos perfeitos, com as tuas certezas inegáveis. Às vezes pensava que bastava gostar de ti. Mas esta simples ingenuidade foi-se complexificando no tecer dos dias…
Cansou-me a indiferença, a incompreensão…
Desisti? Não sei…talvez apenas me tenha cansado.
E o pior?
É que ainda gosto de ti…