12 dezembro 2009

Quatro Paredes

A chuva, tocada pelo vento, atirava-se contra a velha janela…Um vento frio proveniente do exterior tiritava por frechas de portas e janelas. Sombras deformadas erguiam-se mergulhando o espaço numa enorme escuridão.
E sentado naquele quarto vazio escrevia. Escrevia para não pensar, para se afastar de si próprio. Tudo porque ouvira uma vez dizer que se reproduzisse para o papel as suas feridas, elas tenderiam a desaparecer.
Escondia-se naquele pedaço de papel amarelado, carcomido pelos anos, evadindo-se daquele corpo velho gasto, consumido pelo tempo. Corpo cansado, mente lúcida. Ao fim de tanto tempo ainda procurava. O quê? - Perdera-se tantas vezes pelo caminho… - Um sentido. Uma palavra. Uma revelação.
Rabiscava os dias, as horas, os pensamentos…
Recolhia então ao mais íntimo de si numa demanda àquela sabedoria adquirida pelo passar dos anos. Procurava um sentido de justiça, quando todas as palavras, todos os actos, todos os juízos pareciam estar mergulhados numa injustiça omnipresente.
Gatafunhava os medos, as verdades, as ilusões...
Escrevia para esquecer, para abandonar aquele vazio que o preenchia. Entregava-se à sorte do momento como quem abandona uma vida à sorte do destino.

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